Olá pessoas. Sim, textão do Severo. Porque os tempos pedem isso.
O texto poderia ser curto, mas não faria jus à gravidade desses dias.
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Há quem queira ver o cenário atual pela luneta do bem de Joaquim Manuel de Macedo, achando que um certo candidato de extrema direita e pouquíssimo apreço por uma grande parte da população brasileira vai limpar o país da corrupção. Sendo ele próprio acusado de ser corrupto nas poucas coisas que fez na vida, o homem de Deus que exalta a violência e morte do que não lhe agrada, me parece que essa história acaba mal. E que mal seria esse? A manuteção das redes de corrupção por todo o país? Muito pior – a queda da democracia que tanto se lutou para estabelecer.
– Do contexto
Quem é mais próximo sabe que não era o cara mais politizado do mundo. Sempre me contentei com o que estava ai e no máximo empunhava algumas discussões com meu pai, que reclamava e berrava com os telejornais, não importando quem estivesse no poder. Isso vem mudando, e não foi agora. Há pelo menos 4 ou 5 anos tenho olhado mais para a poítica e tomado um lado. Esse lado é o do bem estar social.
Domingo iremos votar para presidente, deputados federal e estadual, além de senadores (2 vagas). E infelizmente eu assisto muito preocupado a amigos, familiares e conhecidos mais distantes marcharem para o caminho do desrespeito, do desprezo pelo que é diferente de si e da vingança cega aos governos Lula e Dilma. Isso manifestado em intenção de voto para todos os cargos citados, mas principalmente para presidente. A preocupação agora divide espaço com a tristeza. Explico a seguir.
– Dos participantes

Fonte: Reprodução/Facebook
Depois de muito pensar, cheguei à conclusão que as pessoas que pretendem votar no candidato fascista e seus seguidores/apoiadores (mesmo que de outros partidos), podem ser divididas em basicamente dois grupos:
- aqueles que não querem no poder o PT/”Esquerda” (sim, entre aspas porque o conceito de esquerda e seus desdobramentos é bem mais amplo do que muita gente quer fazer parecer) e;
- aqueles que concordam com as atrocidades que o tal candidato incita, e almejam legitimidade para fazê-las.
No GRUPO 2 temos os priores tipo de pessoa e infelizmente vamos ter que conviver com elas independente do resultado das eleições. É pouco provável que esses mudem. Gente que não entende que o mundo é diverso, complexo e infinito em possibilidades. Gente tão ignorante que acha que seu set de {orientação sexual, posicionamento religioso, estilo de vida} é o único correto; os demais devem ser eliminados (note que não estou considerando se quer o viés político). Gente que quer se valer de uma arma de fogo pra intimidar no trânsito, na rua, na festa, na escola, e principalmente, dentro de casa. Intimidar pelo medo porque não tem razão ou não tem humildade de ouvir e discutir um problema. Gente que quer ter a liberdade de xingar aquela pessoa da qual não gosta com o respaldo de que o exemplo vem de cima. Gente que considera como “verdade que ninguém quer dizer” o que não passa de ofensas e apologia à violência do tal candidato. Gente que sempre quis ter um comportamento escroto com os outros mas que não tinha coragem de assumir isso. Gente que arrota honestidade e a exige de forma ferrenha, mas acha lindo e se aplaude por furar filas “porque não é otário”. Gente que não tem o menor respeito pelos demais frente à menor oportunidade de levar vantagem e que não consegue reconhecer o racismo nas suas próprias palavras e “piadas”. Gente que não economiza nas orações e frequenta infalivelmente a igreja (no fundo por medo do julgamento divino), mas que, quando muito, se preocupa apenas com os seus e usam dessa religiosidade para diminuir e julgar as outras pessoas.
No GRUPO 1 temos os meio perdidos numa vingancinha contra o que representa a esquerda no país e mais precisamente contra o PT. Como em qualquer vingança, essa galera está apostando alto pra conseguir esse momento de tripudiar em casa, no trabalho e nas redes sociais sobre a retirada do PT do poder – mesmo que não consiga enxergar as reais consequências disso na sua vida. O problema é que esse grupo está apostando com a liberdade de todos nós, arriscando entregar o cargo máximo do país a um homem sem a menor excelência em qualquer área de atuação, que faz questão de bradar xingamentos e ódio, e que traz a tiracolo um general do exército que choca o país sempre que abre a boca. De retirada de direitos que ainda restam aos trabalhadores até ameaças nada veladas sobre uma tomada do controle do país à força (vulgo golpe militar), não faltam motivos pra termos medo desse vice antes mesmo dele estar lá. Vingancistas acham que deixar subir o (vice) Temer foi um erro imperdoável, mas querem pagar pra ver uma tragédia muito mais clara dessa vez. Dentro desse grupo estão os que foram para o exterior via Ciências sem Fronteiras, tiveram acesso à universidades recém construídas na sua cidade ou às particulares via ProUni, conseguiram subsídios para compra de um imóvel, flexibilização no acesso ao crédito para suas empresas (pra não dizer que estou falando só dos assalariados, cof, Havan), mas que tem certeza absoluta que o governo petista destruiu as suas vidas. Outros, tiveram ao alcance muitas dessas oportunidades, nada fizeram, e reclamam do mesmo jeito.
– Das considerações
Para o GRUPO 1, gostaria de lembrar que existem outros candidatos que não são do PT com um plano de governo que provavelmente se encaixa com seus anseios, sejam eles liberais, centro-esquerda ou direita. Candidatos que ao menos tem destaque nas suas devidas áreas de atuação, sejam elas políticas ou de mercado. Candidatos que apresentam competência técnica e/ou política (seja partidária ou de movimentos sociais) para serem um ou uma presidente da república. Pessoas nesse grupo podem ter suas intenções de tentar retirar o PT do Palácio do Planalto, sem necessariamente afundar o país inteiro no buraco do fascismo. Ao votar nesse candidato você pode até achar que não, mas estará colocando a vida de milhões de brasileiros em risco. Incluindo a minha, já que não vou deixar de andar com meus amigos gays, umbandistas, ateus, esquerdistas, negros, feministas (inclusa minha esposa maravilhosa) e nem vou deixar de defender aqueles que realmente precisam de suporte.
Para o GRUPO 2, um esclarecimento: entendam que não se quer obrigar ninguém a ser gay, a ser feminista, a dar preferência ao afro (indivíduo e cultura), etc. As lutas desses e muitos outros grupos é para viver em paz, e ter respeitados seus direitos de ser. Só isso. Se assim já fosse, tenho certeza que não haveriam tantos protestos, tantos movimentos, tanto pedido de socorro.
– O que se quer é o bem estar social. Para TODOS* –
TODOS, não só para você que {acha} que está na religião “certa”.
TODOS, não só pra você que é hétero.
TODOS, não só pra você que acha que seu tipo de música é o único apreciável.
TODOS, não só pra você que já nasceu com a vida meio (ou toda) ganha e acha que cada um que se vire.
TODOS, não só pra você que acha que não escravizou ninguém então o problema não é seu.
*Por todos leia-se todxs 😉
Representantes dos grupos perseguidos que apoiam o tal candidato me deixam perplexo: gay que vota nele, sabendo de todas a ameaças e apoio dele a qualquer movimento anti-LGBTQ+; mulher que vota nele sabendo que ele apoia todo tipo de machismo (inclusive tenho um exemplo dentro da familia que SEMPRE sofreu com todas as formas de machismo, desde o fiu-fiu na rua até o grupo de machos reunido pra ver se consegue fazer uma baliza, e agora por alguma razão acha boa ideia votar nele, sem pensar que se ele chegar lá esse tipo de constragimento vai crescer exponencialmente..), mães que votam nele mesmo sabendo que ele nega que exista feminicidio e que casos de estupro são sempre culpa da mulher, trabalhador que vota nele mesmo vendo que só existem propostas nocivas aos seus direitos (nenhuma objetivamente posisitva, ne-nhu-ma). Pessoas com todo tipo de formação que votam nele fechando os olhos para publicações manipuladas {1, 2, 3, 4, 5, …} e o alerta de todos os tipos de veículos de comunicação no Brasil e no Mundo (incluindo publicações indiscutivelmente respeitadas e não alinhadas com a esquerda como o The Economist). Tem brasileiro querendo ensinar o governo Alemão sobre como realmente foi o Holocausto e que na verdade o movimento exterminador de Hitler era de esquerda.
O pior de tudo isso é que as vezes esse apoio é sustentado apenas pelo pilar da opção religiosa do candidato (agora apoiada pelas nada poderosas e influenciadoras igrejas evangélicas), mesmo sua conduta sendo absolutamente avessa ao que se espera de alguém que se diz cristão em 2018.
– Do ponto central
Depois de muito ler, refletir, ouvir e especialmente de uma longa discussão com a Eudenia (obrigador) recentemente, acho que finalmente entendi um aspecto muito simples mas pouco claro sobre o voto guiado unicamente por valores morais. E esse é o voto majoritário do #elenão. Vamos lá.
É justo que você não vote num candidato que apresenta valores morais com os quais você não concorda, afinal ele não lhe representa como ser humano. Isso é suficiente para que você o desaprove pessoalmente. Por outro lado, votar em um candidato EXCLUSIVAMENTE porque ele representa os valores morais que você segue (ou segue quando é conveniente), é um atentado à sociedade, porque negligencia toda a competência e direcionamento político do candidato que você está elegendo PARA UM CARGO POLÍTICO. Um cargo que irá influenciar na vida de todos nós.
Em outras palavras (e sim isso é um ataque direto): se você é militar, evangélico, católico, anti-aborto, “patriota”, e se inclinou a votar no #elenão APENAS por fazer parte desses grupos, lembre-se que você está apoiando um cara que em 3 décadas como figura pública nunca se destacou em nenhum momento com algo de positivo para a população (e nem fez questão de tentar crescer dentro do seu campo, como ele mesmo diz em uma entrevista), mesmo sendo esse o seu único trabalho. Um cara que evita participar de debates mas não abre mão de dar entrevistas para os que estão do lado dele (mesmo que o motivo para evitar o primeiro paradoxalmente não influencie na concessão segundo). Um cara que, quando fala, não tem clareza para explicar um item se quer do seu plano de governo, se valendo sempre de jargões, metáforas e passando a responsabilidade para futuros encarregados. Um cara que claramente não conhece, nem reconhece, o Brasil como o país diverso e imenso que ele é.
Valores morais não são suficientes para qualificar politicamente e profissionalmente seu candidato para o cargo que ele pleiteia, mas são sim suficientes para desqualificá-lo como representante se tais valores só respeitam uma pequena parcela do seu povo.
– Das disposições finais
Se você está no grupo 1 ou 2, lhe digo que entregar o país nas mãos de um líder da esquerda, por mais que você encontre motivos pra reclamar, deu oportunidade pra muitos; tirou milhões da miséria, ascendeu socialmente quem nunca achou que teria mais que um ensino médio, levou dignidade pra quem vivia uma vida que você nunca aguentaria viver, já que passa o tempo se maldizendo da sua. Foi um governo pra favorecer quem tinha menos, não quem tinha demais. E eu que estava entre os que nem tinham demais e nem de menos, vi muita coisa melhorar ao meu redor, obrigado. Vi a classe média ganhar fôlego para abrir seus próprios negócios, gente viajando mais de avião inclusive para o exterior (e isso irritou muitos ricos), coisas gravadas em pedra como proibidas para a maioria do povo antes da era Lula. Erros cometidos nesse governos devem ser investigados SIM e se não me engano, estão sendo (embora algumas vezes às avessas: temos um ex-presidente preso sem provas e uma ex-presidente que sofreu impeachment via golpe, enquanto Aécio Neves está bem solto fazendo campanha para deputado federal). Sinceramente eu olho pra trás e vejo que as coisas eram bem melhores do que são hoje e do que eram antes no governo FHC. Mas se você acha que já deu de PT, ok, você tem seu ponto de vista. Novamente, temos muitos outros candidatos e candidatas que não são fascistas.
Por outro lado, entregar o país na mão de um fascista que se apresenta publicamente contra as minorias (ou mesmo maiorias, no caso das mulheres), que a todo momento incita a violência e o ódio por determinados grupos, que quer jogar a segurança pública para ser problema seu e não do estado, que se orgulha de todos os absurdos que propaga como
- homossexual merece apanhar mesmo “pra se ajeitar”
- mulher devia ganhar menos
- índio não serve pra nada
- quem tem AIDS que se vire, ficou doente porque estava fazendo algo errado
- trabalhador vai tem que escolher entre todos os direitos ou ter emprego
- polícia tem que atirar primeiro e perguntar depois
- dependendo de mim, não vai haver 1cm de demarcação de terras
- feminicídio nao existe
- no Brasil não existe negócio de homofobia [favor ler item 1 da lista]
- meus filhos não se envolveram com negras porque foram bem criados
- o apartamento funcional eu usava pra comer gente
- não lhe estupro porque você não merece
- a lista não tem fim…
que possui ambas as carreiras militar e política muito abaixo do que se pode considerar admirável, com um vice nitidamente interessado em um golpe caso as coisas não andem como eles querem? Bom, isso é matar a democracia nesse país e ai, meu caro e minha cara, ai vocês vão ver as coisas piorarem de verdade. Se esse país entra numa nova ditatura, ou uma guerra civil (ideia outrora almejada pelo candidato), sabe-se lá quantos anos nós vamos levar para voltar à democracia pela qual tantos deram as vidas.
Sobre candidatos concorrendo aos demais cargos, que quando escapam em algum grau do fascimo/homofobia/racismo/elitismo, sustentam toda a sua campanha simplesmente em serem médicos, ou militares, ou evangélicos/católicos, ou qualquer outro tipo de coorporativismo sem base política ou de luta POR TODOS, em resumo, apenas valores morais: não elejam esses candidatos. Tem bastante gente séria fazendo um bom trabalho por ai que está tentando uma posição nessas eleições, principalmente os candidatos a deputado estadual e federal. Ainda há tempo.
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Meu lado é o do bem estar social; nem eu nem você estamos sozinhos nessa bagaça. Então se você quer tirar o PT a todo custo votando no #elenão, ou seja, ao custo da paz de muitos de nós, pense novamente. Não esqueça que você pode estar no grupo dos indesejados num piscar de olhos. Se você quer eleger o #elenão porque apoia as “verdades” que ele tem coragem de falar, fique à vontade para me excluir da sua lista de amigos agora, porque lhe falta o mínimo de consideração com uma grande parte da população desse país. E se prepare, indepedendente do resultado da eleição, porque somos muitos e não vamos nos calar.
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Ele não. Ele nunca. Ele jamais.